A Escola Politécnica na Revolução de 1932

 

Parte I – A Politécnica em armas

 

A Escola Politécnica teve participação de destaque na Revolução de 1932, que opôs os fazendeiros paulistas ao governo federal chefiado por Getúlio Vargas, levado ao poder com o golpe de 3 de Outubro de 1930. Os paulistas defendiam a imediata convocação de uma Assembléia Constituinte e eleições gerais, lutando para reaver o poder que o Estado mantivera durante o período da República Velha e da política do “café-com-leite”.

 

A Revista Politécnica na época descrevia do seguinte modo os acontecimentos: “A 9 de Julho de 1932 irrompeu neste Estado um grande movimento armado animado do mais puro idealismo, sob as aclamações calorosas de crianças, de moços e de velhos, sublevação heróica com o incondicional apoio de ricos e pobres, homens e mulheres. E a nossa Escola, através de todo o seu corpo docente e discente, unânime e coesa, apressou-se em hipotecar completa e irrestrita solidariedade ao movimento assim deflagrado.”.

 

A Congregação da Politécnica solidarizou-se formalmente com o governo do Estado. A Escola e todos os seus laboratórios foram requisitados pelo governador Pedro de Toledo para constituírem o Serviço de Engenharia da Força Pública do Estado. O professor Mário Whately assumiu os serviços de engenharia da Politécnica como delegado do governo.

 

A campanha Pró-Constituinte teve participação ativa do Grêmio Politécnico, como descrito a seguir pela Revista Politécnica: “Com prazer consignamos ainda que os estudantes paulistas tem sido os leaders da campanha, fundando a Liga Paulista Pró-Constituinte que com poucos meses de vida, conta já em seu ativo com a responsabilidade das duas mais grandiosas reuniões cívicas realizadas no Brasil: os comícios de 25 de janeiro e 24 de fevereiro últimos. O Grêmio Politécnico tem apoiado com entusiasmo todos os movimentos que possam apressar a volta da Constituição. A história dirá que a mocidade acadêmica paulista contemporânea da Revolução de 1930 cumpriu o seu dever.”. A Politécnica havia sido um dos primeiros estabelecimentos de ensino no país a adotar a instrução militar a partir de 1916, apoiada pelo Grêmio.

 

O Instituto de Engenharia foi um dos principais redutos de oposição ao Governo Provisório de Getúlio Vargas, e um dos deflagradores da Revolução Constitucionalista, decidindo adotar medidas bélicas e táticas. O primeiro passo foi arregimentar voluntários: após 48 horas já havia uma lista de 739 engenheiros.

 

Além da participação política, a presença da Politécnica deu-se em vários setores de produção de armas e outros artefatos que serviam à guerra.

 

O serviço de cartografia da Escola executou plantas dos diferentes setores de luta, fazendo cópias, ampliações, corrigindo detalhes e modernizando antigas plantas.

 

Foram estudados e construídos periscópios que permitiam ver o inimigo de dentro das trincheiras e corretores de tiro para metralhadoras antiaéreas. Binóculos doados através de campanha pública eram enviados à Escola, que os milimetrava e transformava em telêmetros para artilharia. Foram também estudados e ensaiados materiais para chapas de blindagem, capacetes, morteiros de trincheira. A arma mais usada nas trincheiras foi o “sapinho”, um obuseiro com lançamentos de alcance de até 1500 metros.

 

A Escola fabricou ainda luvas especiais para facilitar ao soldado a mudança do cano da metralhadora, além de caixas de acessórios e corretores de tiro para essa arma. Também foram produzidos capacetes de aço, máscaras contra gás, carregadores de água com capacidade de 30 litros com filtro e esponjas-filtro para cantis.

 

Outros itens bélicos produzidos na Escola foram um canhão lança-minas, que lançava minas de 2 kg a 800 metros de distância, arame farpado, cavalos de Frisa e outros dispositivos de defesa de trincheira, além de grande quantidade de folhetos de instruções sobre as armas.

 

Uma seção de minas e destruições trabalhou no Vale do Paraíba e depois em Mogi-Mirim, Jaguari, Campinas, Franca e Batatais. Os politécnicos fizeram ainda projetos e execução de trincheiras, construção e reparação de estradas de rodagem e pontes, instalação de telégrafos e telefone e abastecimento às tropas. A Politécnica fabricou também um foguete luminoso que subia sem rastilho e estourava a 500 metros de distância, produzindo uma claridade com duração de 35 segundos, o que permitia identificar as posições inimigas.

 

A Revolução de 1932 trouxe também novos desafios para a indústria paulista. O politécnico Roberto Simonsen assumiu a tarefa de adaptar as indústrias para a produção bélica. A produção paulista de cartuchos de fuzil chegou a 200 mil por dia, além de 8.000 granadas. A FIESP, que promoveu o esforço de guerra, criou uma milícia industrial para prevenir sabotagens nas fábricas, pois os industriais temiam ações do operariado, simpático ao populismo de Getúlio Vargas.

 

Entre as fábricas que transformaram suas instalações para o esforço da revolução estavam Pirelli, Rhodia, Nadir Figueiredo, Antártica Paulista e Matarazzo.

 

Texto extraído do livro Escola Politécnica – 100 anos – Editora Expressão e Cultura - 1993

 

(próxima publicação: Parte II – A Fabricação de Explosivos)

 

Esta compilação foi montada por Sérgio Righi, estudioso do Movimento Constitucionalista de 1932 e gestor do sítio www.ultimatrincheira.com.br 

 

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